10/11/2011

A nadar em seco

Delphinium pentagynum Lam.
Esta espécie é vivaz e natural do centro e sul da Península Ibérica, e do norte de África. Dá-se melhor em clareiras de bosques, terrenos em pousio e margens de riachos com solos bem drenados. A haste floral atinge os 70 cm de altura; tem na base uma roseta de folhas caducas, palmadas, muito divididas e com pecíolo longo, e outras mais acima, esparsas e alternadas. A floração decorre entre Maio e Agosto, mas a data certa depende do habitat.

Seria necessário desmembrar estas flores (de cerca de 25 mm de largura em azul violeta) para se ver que têm quatro pétalas e cinco sépalas (que parecem pétalas, com cerca de 12 mm de diâmetro), uma das quais, a do topo, termina numa espora. As duas pétalas de cima produzem néctar e esticam-se até ao bordo da espora para nela o depositarem. Os insectos beneficiados por este formato são, naturalmente, os que têm língua comprida e afiada, e são estes de facto (além dos colibris, onde os há) os polinizadores mais habituais das plantas deste género.

Estas esporas chamam a atenção apesar de curtas por terem a ponta arrebitada para cima. Como cálice para néctar parece uma postura imprudente, o pitéu pode entornar-se. Mas o mais certo é que isso traga vantagem à planta, que corresponda a um estratagema para garantir uma polinização mais bem sucedida. Na verdade, desse modo os polinizadores têm de forçar o acesso ao néctar, e com isso roçar o corpo nas estruturas com o pólen (amarelo, logo à entrada) que é sua missão colectar e disseminar. Além disso, neste género é frequente que a distribuição de néctar pelas flores não seja equitativa, e que as populações organizem um esquema de recompensa. Funciona do seguinte modo: a maioria das flores não tem néctar (logo a inclinação da espora é irrelevante) e umas poucas têm muito néctar, estando quase ausentes flores com quantidades intermédias de néctar. E, portanto, como numa venda de rifas, os insectos têm maiores hipóteses de recompensa se visitarem mais flores à procura daquelas onde se concentra o alimento. Contudo, a parcimónia na distribuição da recompensa poderia levá-los a desistir demasiado cedo. Determinar a proporção ideal de flores com (muito) néctar entre as muitas flores vazias de modo a maximizar o número de visitas por insecto (e portanto optimizar a eficiência da polinização) é um problema matemático complicado de que estas plantas parecem ter descoberto a solução.

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