21/10/2011

Salsa da neve


Cryptogramma crispa (L.) R. Br. ex Hook.


Poderá parecer que andamos crispados, razões não faltam, mas não: é por coincidência que, em dois dias seguidos, o epíteto específico da planta na vitrine seja crispa. Na de hoje alude provavelmente ao seu aspecto de salsa, tal como parsley fern, nome comum para as plantas deste género. Atente o leitor na quarta foto: vêem-se as dobras nas margens das pínulas que, como se fossem indúsios, protegem os soros lineares (que dão esporos amarelos e se formam entre Junho e Novembro). É esta peculiaridade que dá nome ao género: crypto deriva do grego kryptos, escondido, e gramma de gramme, linha.

Não foi contudo este o detalhe que primeiro notámos quando observámos uma população na serra da Estrela — o único lugar conhecido em território português onde este feto ocorre, como se só lá existissem as fissuras em rochas ácidas, acima dos 1400 m e cobertas por neve em grande parte do ano, que este feto exige (e tolera, pois tem um rizoma ramificado). Além da cor verde-alface-fresca (não por acaso, Lineu, em 1753, designou-a por Osmunda crispa), saltaram-nos logo à vista os dois tipos de frondes, as férteis — douradas, frisadas, estreitas, com 10 a 30 cm de comprimento — e as estéreis, externas, um pouco menores, de pínulas arredondadas e muito menos divididas. Tão diferentes que pareciam pertencer a dois fetos distintos entrelaçados.

É nativa da Europa e oeste da Ásia. Na Península Ibérica, onde só se conhece uma espécie de Cryptogramma, ela restringe-se às montanhas da metade norte e à serra Nevada. O recanto precioso, a que agora chamamos Alexandria, com uma dezena de exemplares bem desenvolvidos, foi descoberto pelo Alexandre Silva (do CISE).

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