03/05/2011

Descoberta das Arabis



Arabis verna (L.) R. Br.

Apreciávamos uma população de Paeonia officinalis subsp. microcarpa em flor na Serra de Aire, quando reparámos numa herbácea baixinha (nenhum pé tinha mais de 30 cm de altura) com flores azul-violeta de cerca de 6 mm de diâmetro e base amarela, a espreitar na beira de um caminho que cruza um lugar pedregoso e sombrio pontuado por orquídeas. Mau sítio para vegetar, pensámos, enquanto nos encolhíamos na estrada de terra para um jipe-todo-o-terreno passar a toda a brida, assim sujeita ao pisoteio, tem os dias contados, resmungámos. Registada a foto da roseta de folhas basais com margens serradas e das quatro pétalas em cruz, arriscámos, pela semelhança com a Arabis sadina, que seria um exemplar do mesmo género. E é, mas tem uma história para contar.

Apesar de pouco sobrar para descobrir no mundo, velho e muito respigado, esta população de Arabis verna foi identificada por António Flor como uma nova espécie para a flora de Portugal. Não se trata de um endemismo português; é uma planta nativa da região mediterrânica e até vulgar no sul de Espanha. Mas esta é uma das duas únicas populações conhecidas no nosso país (a outra, segundo este documento, mora na Rocha da Pena, em Loulé). Contudo, essas descobertas (a de A. Flor está assinalada no livro Plantas a Proteger no Parque Nacional das Serras de Aire e Candeeiros, edição do ICN a partir de um documento interno de 1997) não foram devidamente divulgadas, não constam da maioria dos registos da flora ibérica ou europeia e cada um dos descobridores, no Barrocal algarvio e no PNSAC, parece ignorar a descoberta do outro, pois cada um deles anuncia a respectiva população de Arabis verna como a primeira e única em Portugal.

Tão deficiente partilha de notícias de índole científica é preocupante e pode comprometer a sobrevivência desta raridade. Não só os endemismos, sobretudo os que ocorrem em área restrita ou estão em risco de perda de habitat, pedem medidas urgentes de conservação. Há plantas, como esta, que, apesar de abundantes noutros lugares do planeta, têm presença exígua no nosso território, cronicamente desinteressado pelo seu património natural e descuidado com a biodiversidade. Sem protecção, sabemos, ela é espécie vulnerável, talvez em risco de extinção.

Resta chamar a atenção do leitor para a base cordiforme das folhas caulinares — que são simples e exibem uns dentinhos no ápice — e para os frutos longos e estreitos, azulados enquanto não amadurecem, umas vagens erectas onde, dizem, as sementes escuras se acondicionam num só dos lados.

3 comentários :

Maria Paz disse...

Aparecem umas flores minúsculas num pequeno terreno dos meus pais. Será que me podia ajudar a descobrir o nome delas? Costumo fotografar algumas porque as acho muito bonitas a salpicar o verde. Provavelmente são vulgarissimas mas não calculo. No meu blog fazer e desfazer tenho algumas fotografias. Uma delas acho-a parecida com esta. Será??

Maria Carvalho disse...

Já fui ao seu blogue ver as flores que menciona - suponho que se refere a estas. São gerânios. Repare que cada flor tem cinco pétalas (de ápice dentado) e não quatro como é típico nas crucíferas. [Em latim, cruciferu significa que leva uma cruz; na Arabis verna, a cruz é a que as quatro pétalas formam].

Maria Paz disse...

Obrigada. Pelo menos já sei que aquelas são gerânios.