01/03/2010

Líquen das renas


Pinus pinaster Aiton - Praia do Pedrogão, Leiria

Ensinam os livros que um líquen, por muito que a sua aparência o não denuncie, é formado por dois seres - uma alga e um fungo - em associação simbiótica. As moléculas de um e de outro misturam-se segundo certas proporções, com a alga fazendo as despesas da fotossíntese, e o fungo absorvendo a humidade atmosférica e proporcionando à sua companheira uma capa protectora. Há liquenes em paredes que parecem tinta a descascar-se, outros que acrescentam às árvores as barbas que elas nunca tiveram, e ainda outros, como este que encontrámos num pinhal, que parecem pequenos arbustos vistos através duma câmara de infravermelhos.

Líquenes são criaturas tenazes. Não extraem água nem nutrientes do solo, e revelam-se aptos a sobreviver em condições que nenhum outro organismo vivo suportaria: a pedra nua, a areia do deserto, e mesmo o vácuo do espaço sideral. O seu ponto fraco é serem vulneráveis à poluição atmosférica.



Cladonia portentosa (Dufour) Coem.

De um dos lados do aceiro que rompia pelo pinhal, o solo estava atapetado por uma almofada de líquenes com uns seis centímetros de altura, como se uma nuvem esverdeada pairasse a nível do chão. Apesar de nada querer tirar do solo, o líquen-das-renas precisa de espaço livre para se espraiar. Por isso segrega substâncias que se infiltram no solo e impedem a germinação ou o crescimento de novas plantas. O seu próprio crescimento é muito lento: 6 mm por ano ou pouco mais. Se alguém vier pisoteá-lo, ou se algum animal fizer dele o seu pasto, levará muitos anos até que recupere, se é que alguma vez consegue fazê-lo.

O nome líquen-das-renas aplica-se, com mais propriedade, a uma espécie afim desta [Cladonia rangiferina (L.) Weber ex F. H. Wigg.], que habita sobretudo terras do norte, algumas para lá do círculo polar árctico, e serve de alimento a renas e alces. Há também quem a use ou tenha usado como remédio ou alimento, ou para preparar bebidas alcoólicas. Por ignorarmos se a espécie mais meridional é passível dos mesmos usos, e também para não pormos em perigo a sua conservação, preferimos não divulgar tais receitas.

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