24/02/2010

Às paredes com feto


Asplenium trichomanes L. subsp. quadrivalens D. E. Mey.

Há espécies vegetais que, se não co-evoluíram com a espécie humana, pelo menos adaptaram-se muito bem à nossa quase sempre devastadora presença. Antes do betão armado e das modernas fachadas de vidro, construímos muros pelo simples processo de empilhar pedras, juntando-lhes ou não argamassa para reforçar a estabilidade do conjunto. E, por entre os interstícios dessas rudes construções, romperam plantas como se a pedra fosse para elas terra fértil.

Segundo Hanno Shäfer, no livro Flora of the Azores - a Field Guide (Margraf Publishers, 2.ª edição, 2005), o Asplenium trichomanes, apesar de nativo dos Açores, subsiste nessas ilhas quase exclusivamente em habitats criados pelo homem. No continente a situação não diferirá muito dessa, e é fácil encontrar esta avenca entre os adereços vegetais que recobrem velhos muros. Pode, no entanto, ser problemático decidir, em locais onde a actividade humana há muito cessou, se aquele arranjo de pedras fez ou não parte de algum muro entretanto desaparecido.


Asplenium adiantum-nigrum L. Asplenium billotii F. W. Schultz [e também Umbilicus rupestris]

O género Asplenium, presente em todos os continentes com excepção da Antárctida, inclui mais de 700 espécies de fetos em geral sempre verdes. Uma das características diferenciadoras que exibem, visível na foto acima, é que os esporângios se dispõem em formações lineares mais ou menos paralelas entre si, direccionadas para a extremidade dos folíolos.

É provável que o epíteto adiantum do feto-negro se deva, não às suas propriedades intrínsecas, mas apenas à sua semelhança com algum feto do género homónimo. Se assim for, não é muito pertinente saber que a palavra provém do grego adiantos, que significa não molhado. É que os fetos com o nome genérico Adiantum, depois de mergulhados na água, saem tão secos como um pato que acabasse de sacudir as penas. Um deles, o Adiantum capillus-veneris, é a avenca habitualmente cultivada em vasos, e por isso o leitor talvez tenha à mão todo o material necessário para comprovar o fenómeno.

Errata. As fotos acima são do Asplenium billotii e não do A. adiantum-nigrum. Ambos frequentam fissuras de muros e de rochas silícicas em lugares sombrios e frescos, mas o primeiro distingue-se do segundo por ter, em geral, as pinas das frondes mais arredondadas.

1 comentário :

Luz disse...

Vou experimentar...
Luz