10/12/2009

Orelhas-de-cordeiro



Salpichroa origanifolia (Lam.) Baill.

Mavioso, o povo inglês chama-lhe pampas lily-of-the-valley. Os franceses, também atentos na Primavera às flores brancas em sino com cinco pétalas recurvadas, tratam-na por muguet-des-pampas e, no Outono, vendo as bagas ovóides de cor creme, atiram-lhe em brincadeira a designação œuf-de-coq. E, como alguém reparou nas folhas - redondinhas como as do orégão, arrebitadas e aveludadas, com pecíolo longo e em geral duas por cada nó -, por cá deram em tratá-la por orelhas-de-cordeiro. Tantas alcunhas levam-nos a desconfiar que a planta é abundante e se faz notada. E de facto consta da lista de invasoras indesejáveis em toda a região mediterrânica, estando no top 25 das piores pragas nas ilhas dos Açores e Madeira.

É uma herbácea perene do sudeste da América do Sul. Chegou cá por mão de quem mima abelhas - para elas, com tanto néctar, é um genuíno porte-bonheur -, gostou do clima temperado, do solo pobre ou arenoso, da vista para o mar a lembrar-lhe o Pacífico da infância, e já não saiu. Embora de folha caduca, é competidora agressiva por espaço e recursos. Além de alterar a prevalência natural de outras espécies, veda às outras plantas o acesso a nutrientes e ao sol ao formar tapetes cerrados com cerca de 1,5 m de altura, adulterando assim os padrões de regeneração da vegetação nativa. E, se em casa lhe basta a ponderada disseminação por sementes, entre nós adoptou ainda a multiplicação vegetativa. A juntar a tudo isto, é um caméfito: as suas gemas de renovo surgem a não mais de 25 cm acima do solo; assim, se for preciso, ficam protegidas do frio intenso dentro de um iglu de gelo sustentado pela folhagem. Rendamo-nos a tanta astúcia.

O termo salpichroa vem do grego: salpinx significa trombeta, e khróa, tez, em alusão ao formato e cor das flores. O género tem uma trintena de espécies vivazes originárias de zonas temperadas da América do Sul e uma (S. wrightii A. Gray) do Arizona e Novo México.

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