08/09/2009

Upside-down orchid


Stanhopea oculata (Lodd.) Lindl.

Estas orquídeas, do México e Brasil, são plantas grandes, com pseudobolbos agregados, cada um com uma folha larga, plicada, elíptica, com cerca de 40 cm de comprimento e nervuras salientes. A inflorescência brota da base do pseudobolbo e atravessa o substracto, desenvolvendo-se para baixo - por isso, nas estufas, estas orquídeas estão em cestos arejados e pendurados no tecto. As flores de aparência cerosa são muito perfumadas (aroma de baunilha) e têm duas manchinhas negras como olhos: um conjunto notável que nos lembra o voo de um condor. Os botões abrem com um pop festivo, mas a flor não dura mais de uma semana. Por isso tem de atrair os polinizadores rapidamente e ser eficiente na entrega de pólen. Percebemos agora o interesse neste formato da flor: atraída pelo odor doce, a abelha lança-se incauta ao néctar e inevitavelmente escorrega na superfície cerosa da flor; para se libertar, tem de revolutear num corredor recurvo e pintado de pólen.

O género Stanhopea agrupa umas 30 espécies da América Central e do Sul que se desenvolvem bem à sombra das matas húmidas e temperadas. O nome homenageia Philip Henry Stanhope (1781-1885), aristocrata britânico que presidiu à Medico-Botanical Society of London e é sobretudo lembrado pelo seu envolvimento no caso Kaspar Hauser.

Kaspar Hauser corporiza a imagem europeia da criança-lobo, embora os detalhes da sua infância nunca tivessem sido completamente esclarecidos. Certo é que apareceu já adolescente em Nuremberga, em 1828, alegando ter vivido até ali em completo isolamento e escuridão. Stanhope interessou-se pelo relato, tentou clarificar a origem deste menino, chegou mesmo a ser seu perceptor, mas acabou convencido de que a história não era credível. E contudo ela inspirou numerosas obras de literatura (de Paul Verlaine, Herman Melville, Jakob Wassermann, Paul Auster entre muitos outros), teatro (de Peter Handke, por exemplo), música (como a ópera Kaspar Hauser: a foundling's opera de Elizabeth Swados) e cinema (Werner Herzog, Every Man for Himself and God Against All; Peter Sehr, Kaspar Hauser - Crimes against a man's soul; e François Truffaut: no filme Fahrenheit 451, baseado na obra homónima de Ray Bradbury, o protagonista, antes de atear uma fogueira de livros, guarda discretamente no bolso um em cuja capa se lê Gaspard Hauser).

2 comentários :

Luz disse...

São lindas , como todas as suas famíliares!!!
Luz

Fátima Isabel disse...

Na Madeira chamamos-lhe Passarinhos.