21/08/2009

Epping Forest



Epping Forest. Em cima: Quercus robur. Em baixo: Fagus sylvatica, Betula pendula

Londres é uma amálgama de cidades sobrepostas e contrastantes. Há os túneis da rede de metro, com as carruagens apinhadas nas horas de ponta, os tablóides gratuitos que, abandonados nos assentos, vão passando de mão em mão. Títulos de um sensacionalismo desavergonhado: professores garantem que macacos podem ser treinados para passar nos exames nacionais; máquina multibanco em supermercado fornece dinheiro grátis a clientes. Há o consumismo efervescente, tanto de turistas como de autóctones, em Oxford Street, em Picadilly, nos armazéns Harrods. Há a Madame Tussaud com as inexauríveis filas de visitantes à porta. Há os museus e galerias onde dias inteiros não chegam senão para admirar uma ínfima parte dos acervos. Há o teatro sério, de reportório, e o musical-para-toda-a-família (Os Miseráveis, O Fantasma da Ópera, Blood Brothers) que se mantém em cartaz anos a fio.

E, entremeando este labirinto urbano no limite da alucinação, há os enormes plátanos nas ruas, há os jardins e parques dos mais variados tamanhos democraticamente espalhados pelo território da metrópole. De facto, aos habitantes pouco abonados dos subúrbios cabe até um quinhão mais generoso na distribuição do verde. A Epping Forest é o maior espaço verde público da capital britânica; situada a nordeste de Londres, estende-se por 18 km no sentido norte-sul e tem uma largura máxima de 4 km. Reserva de caça real desde os alvores do segundo milénio da era cristã até meados do século dezanove, foi protegida por decreto parlamentar de 1878, onde se estipulou que a floresta permaneceria sem construções e de livre acesso para todos.

Do que a Epping Forest não se livrou foi da completa suburbanização do seu perímetro: Leyton, Wanstead, Walthamstow, Chingford e Loughton são bairros que prolongam a malha urbana londrina e completam o cerco da floresta. Locais indistinguíveis uns dos outros, feitos do mesmo tijolo vermelho ou bege, com o mesmo comércio de rua a um passo da falência, os mesmos pubs, os mesmos pindéricos shopping centres, os mesmos hipermercados (Tesco ou Sainsbury's), os mesmos bairros residenciais. Quem lá vive só é privilegiado por ter a Epping Forest à porta de casa. E, para o visitante de ocasião, é a existência desses bairros periféricos que lhe permite o conforto de chegar às franjas da floresta usando metro ou autocarro.

Apesar do seu carácter urbano, a Epping Forest não é uma floresta de brinquedo. A começar pelo tamanho: ocupa 24 km2 (2400 hectares), o que, para usar termo de comparação que se entenda, é bem mais de metade da área do concelho do Porto (que tem 42 km2). O coberto arbóreo é denso e os caminhos não estão sinalizados, o que faz com que um visitante desprevenido se perca com a maior das facilidades. Isso, porém, só seria um óbice numa floresta menos frequentada: aqui passa sempre alguém que nos põe na rota certa.

Na Epping Forest palmilhamos quilómetros e quilómetros sem ver um carro, entre carvalhos, faias, bétulas, carpas (Carpinus betulus), azevinhos e avelaneiras. Aqui e ali abrem-se clareiras, vislumbram-se lagos e charcos. Acompanha-nos o som dos pássaros, das aves aquáticas, do vento sacudindo a folhagem das árvores. Tudo isto na mesma cidade em que os peões se acotovelam nos passeios, e em que o metro e o trânsito automóvel nem por um momento descansam do seu afã nas 24 horas do dia.

2 comentários :

Gi disse...

A Epping Forest lembra-me imediatamente a canção dos Genesis, numa época em que comprava todos os álbuns deles.

Anónimo disse...

Esse irreal/real que eu adoro nas faces de Londres - cosmopolitas e, sobretudo, indispensavelmente respeitando árvores.
Abçs da bettips