24/03/2008

Primavera-do-Cabo


Lachenalia aloides

O acordo ortográfico dedica-lhe certamente um extenso capítulo por ser o idioma que mais cá se usa entre Março e Setembro. Trata-se do português-para-estrangeiros em que os nossos compatriotas, sobretudo empregados de mesa e lojistas, se exprimem para dar informações a turistas. É uma língua a duas velocidades, muito mais lenta se o estrangeiro é desatento e precisa que a mensagem seja repetida. Mas sempre deformada, soletrando ritmadamente as palavras incorrectas, esforço que a deve assemelhar ao espanhol com que se julga amaciar as nossas sílabas. Frequentemente o turista responde em português mais escorreito, o que é percebido com um jubiloso acenar de cabeça pelo informante português, vaidoso do alcance da sua comunicação.

Em mais nenhum país se vê este desvelo com o visitante: em vez de aprender outros idiomas para poder falar com os turistas, o português prefere adulterar o seu, alterando-lhe a fonética e apimentando-o com erros para que melhor se entenda. Não admira que nos lugares onde os nossos marinheiros quinhentistas semearam palavras portuguesas se falem hoje línguas diversas, que agora a lei tenta uniformizar.

Tal simpatia é conhecida no mundo e os turistas mais uma vez invadiram as nossas ruas - único lugar não fechado ao público nestes dias santos que encerram museus e jardins. São estrangeiros que não entendem as nossas indicações e, por isso, carregam mapas e dicionários, e reclamam da chuva e do vento frio com que são recebidos no país que tem sol todo o ano e muito preza os seus poetas.

Visita notada foi a desta exótica Lachenalia aloides, quase-aloé sul-africano cuja designação alude a Werner de la Chenal (1736-1800), professor de botânica suíço. É uma planta bolbosa, como é grande parte da flora do Cabo, onde os invernos são inclementes (aviso do Adamastor) e os verões secos. Estenderam a toalha de apenas duas folhas largas na duna protegida da Aguda e as inflorescências-semáforo, que já justificaram o nome L. tricolor, durarão mais algumas semanas.

1 comentário :

Anónimo disse...

Ah, que bela visita. Bem, como herança da tradição lusitana os brasileiros não somente mudam o ritmo e a rítmica da língua, mas utilizam a propria língua dos visitantes, nas placas, 'folders' e etc... O que pode ser pior?