14/07/2005

Michel Desvigne - paisagista e urbanista

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A propósito da seguinte passagem do texto de apresentação do II Congresso da SPA -"Conceptualmente, as áreas urbanas são, de uma forma crescente, áreas descontínuas e desgarradas entre si, o que dificulta a instalação e a manutenção do verde urbano na estrutura citadina." - lembrei-me de uma entrevista -para a qual JCarlos Marques chamou a nossa atenção no PNED- com o "paysagiste" Michel Desvigne (grande prémio de urbanismo 2003/França), publicada no Le Monde de 27.06.05 com o título de "Notre territoire est devenu laid, il n'est plus lisible".

Esta fealdade (e consequente impossibilidade de "leitura" da paisagem -quem consegue entender e usufruir uma paisagem desordenada, agredida, descontínua?) decorre, segundo MD do facto de serem as grandes infraestruras a modelarem, sem planeamento concertado, o território: «Ce sont désormais les infrastructures qui, de plus en plus, façonnent le paysage : autoroutes, entrées de ville, voies rapides, lignes à haute tension, TGV. Ces équipements sont le fait d'administrations qui semblent parfois obéir à des logiques antagonistes. Les technocrates et les politiques décident. »

Mas gostaria de destacar mais duas passagens da entrevista, a primeira das quais bem reveladora da grande sensibilidade e cultura de Michel Devigne que afirma que para os "paisagistas" não existem "páginas em branco":
«Je suis un explorateur, plutôt qu'un exportateur. Mon travail consiste d'abord à dresser un état des lieux. Les paysagistes ignorent le vertige de la page blanche. Un terrain vierge, cela n'existe pas. Lorsque nous intervenons, il y a toujours quelque chose de préexistant que nous sommes chargés de transformer ou de révéler. »
(Lamentável que os nossos arquitectos "urbanistas" declaradamente sintam esta vertigem da página em branco, como eu ouvi a um dos autores do projecto de "desqualificação" de uma das zonas mais emblemáticas da nossa cidade!!!! Caso gritante de autêntica "iliteracia urbanística" ;-(

Interessantíssimo também é o relato do projecto de desenvolvimento urbanístico com planeamento integrado de zonas verdes que Michel Devigne está a implementar em Bordeaux e as raízes que este género de intervenção encontra no trabalho de Frederick Law Olmsted (que aqui já referimos uma vez).
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1 comentário :

Anónimo disse...

Não são demais os parabéns à equipa que nos vem presenteando aqui com ensinamentos e exemplificações tão fundamentais nos domínios da defesa, da gestão ambiental e da arquitectura paisagista.

Uma arquitecta (só)