20/04/2005

De Judas ou da Judeia?


Olaia e canforeira numa rua da Foz (Porto)

A propósito da Quinta das Lágrimas (Coimbra), falou-se aqui da olaia (Cercis siliquastrum), e da discussão ficaram dúvidas que não conseguimos resolver. Foi mesmo numa árvore destas que Judas se enforcou? É só porque havia tal árvore nesse antigo território que o seu nome francês é árvore-da-Judeia? Finalmente, nenhum dicionário que conheçamos explica a origem da palavra olaia, e não parece existir noutras línguas designação semelhante para a mesma árvore.

Mas esta é mesmo a altura de celebrarmos a olaia, sob pena de, com a floração quase a terminar, termos de adiar o assunto por um ano. Originária da região mediterrânica, é uma pequena árvore da vastíssima família das leguminosas; as folhas têm forma de cardióide; os frutos são vagens que costumam manter-se nos ramos após a queda das folhas; as flores, que surgem antes das folhas e, conforme a variedade, têm cor entre o vermelho ou rosa carregado e o branco, brotam em cachos, por vezes directamente do tronco. Segundo alguma literatura, foram os botões vermelhos emergindo do tronco que inspiraram o nome árvore-de-Judas, ao sugerirem que a árvore teria sangrado quando Judas nela se enforcou.

Há muitas olaias em jardins e ruas de norte a sul do país, e é por isso escusado dizer onde se encontram: basta andar de olhos abertos para que uma olaia em flor grite pela nossa atenção. Mas no Porto é obrigatório referir uma transversal da rua do Campo Alegre, a rua de Guilherme Braga, preenchida de uma ponta à outra com olaias alternadamente brancas e rosas.


Fotos: pva 0504

3 comentários :

ManuelaDLRamos disse...

Pois é, até ver ficará a dúvida que no entanto só me preocuparia seriamente se não tivéssemos o lindíssimo nome de Olaia em português (a propósito, alguém sabe quem foi Santa Olaia?). Nunca chamei nem chamarei a estas árvores o horrendo nome...
"Redbud" em inglês também é uma bela alternativa e "Arbol del amor" (provavelmente por causa das folhas em forma de coração) em espanhol igualmente "mi gusta, no?".
Bem, mas acho que isto fica para um próximo post;-)

(E já agora, se for admirar as olaias de Guilherme Braga, não se esquecer de ir ver os castanheiros-da-índia agora em flor na rua de Guerra Junqueiro, mesmo ao lado.
Realmente não há mãos a medir com as árvores todas a chamar por nós, embandeiradas em flor! )

Anónimo disse...

A origem da palavra olaia é, provavelmente, eulália. Assim, Santa Olaia poderá ser a Santa Eulália (mártir espanhola do séc III).
Eulália significa "bem falante", o que, no caso da árvore em questão, acrescenta pouco.
Ficam, pelo menos, quatro dúvidas: por que motivo chamamos olaia ao cercis siliquastrum? a que se deve a associação com árvore-de-Judas? afinal, em que árvore se enforcou Judas? será Santa Olaia a Santa Eulália?
E, já agora, fica uma censura (mais uma) à Câmara do Porto. Há vinte anos, a rua do Conde de Ferreira (paralela à Av. Rodrigues de Freitas) estava bordejada de olaias. Não sei calcular a idade que teriam, mas um homem não abraçava as árvores! Sobra uma, perto do Largo Soares dos Reis. As outras foram abatidas (não Rui Rio, dessa vez não foi o senhor) e substituídas por áceres platanóides vulgares.

Anónimo disse...

Obrigado pelas fotos maravilhosas texto rico em pormenores muito esclarecedores sobre a olaia. Passava todos os dias por uma igual e não sabia o nome. OLima (ondas2.blogs.sapo.pt)