13/05/2013

Cor de rosa quando foge

Romulea rosea (L.) Eckl.
A Romulea bulbocodium, que no fim do Inverno e início da Primavera faz brotar rasteiros tapetes roxos em montes e vales de todo o país, não mereceu, apesar disso, ser popularmente agraciada com algum nome de baptismo. Não é pois de esperar que o dito povo alguma vez tenha notado as suas congéneres, nem mesmo a muito vistosa e costeira Romulea clusiana. Quanto a nós, não foi ainda na temporada de 2013 que conseguimos avistar plantinhas tão esquivas como a R. columnae e a R. ramiflora. Trata-se, como é bom de ver, de puro coleccionismo botânico, pois essas espécies de modo nenhum suplantam em beleza aquelas que já conhecemos. Houve, porém, um momento em que acreditámos que uma única florzinha num prado junto ao rio Coura era um dos cromos que faltava à nossa colecção. Mas o cor-de-rosa intenso da flor, as pétalas lanceoladas e, sobretudo, o facto de se tratar de uma planta solitária fizeram-nos desconfiar da sorte. «Uma Romulea nunca vem só»: eis o que poderia ser um ditado popular num país mais versado em botânica.

Uma consulta ao portal da benemérita Pacific Bulb Society permitiu localizar a Romulea courense nas páginas ilustrativas das espécies sul-africanas. Ficámos a saber que a província do Cabo é um verdadeiro bazar espontâneo de Romuleas multicoloridas: amarelas, vermelhas, lilases, brancas, acobreadas, cor-de-rosa. Face a tamanha diversidade, a Península Ibérica e a Europa em geral fazem figura triste. Para restaurar algum amor-próprio, temos de recapitular mentalmente as coisas que são nossas e que os sul-africanos não têm: os narcisos, o Drosophyllum, o lírio-do-Gerês.

A Romulea rosea, nativa da África do Sul, é uma planta bolbosa com folhas filiformes e haste floral com 6 a 15 cm de altura; a cor das flores é muito variável, e a haste exibe uma intumescência característica logo abaixo do cálice. A sua aptidão ornamental valeu-lhe de passaporte para outros países e continentes, e hoje está naturalizada pelo menos nos E.U.A., na América do Sul (Chile), na Europa (França e Grã-Bretanha), na Austrália e na Nova Zelândia. É pouco provável que se torne numa invasora perigosa, mas a planta avistada em Paredes de Coura talvez anuncie que a espécie está em vias de se instalar em Portugal.

4 comentários :

a d´almeida nunes disse...

Todos os anos tiro fotografias às plantas que encontro por aí. As fotos vão ficando, na maior parte dos casos, pelo computador, em arquivo, duma forma anárquica.

Tenho muita pena de não conseguir ser tão organizado que as tivesse no meu blogue. Ainda não perdi a esperança.

Um abraço.

Paulo Araújo disse...

É bom vê-lo por aqui, António. Isto de fotografar plantas e dar-lhes nomes é um passatempo absorvente, mas agora há vários endereços na net que são de grande ajuda (a começar, claro está, pelo Flora-On).
Abraço,
Paulo

bea disse...

Parece uma estrela rosa e tem um cair de pétala espectacular

ZG disse...

Mais uma descoberta fantástica!!
Parabéns pelo extraordinário achado e pelo post tão interessante!!