29/12/2011

A cervina também mora aqui

Ribeira do Espírito Santo, Miramar, Gaia / Asplenium scolopendrium L.
Agora que está prestes a cair a última folha do calendário de 2011, é altura de encerrarmos oficialmente o Grande Concurso Dias com Árvores, que decorreu sem interrupções, embora com uma actividade algo letárgica, desde o passado dia 10 de Janeiro. O objectivo era descobrir, em algum concelho do Grande Porto, um dos mais notáveis fetos da nossa flora, a língua-cervina (Asplenium scolopendrium). Quem encontrasse a planta na natureza e nos reportasse a descoberta seria contemplado com um ou mais livros. Inicialmente o concurso abrangia apenas os concelhos de Espinho, Gaia, Porto, Matosinhos, Maia, Gondomar e Valongo, mas optámos por alargá-lo a Ovar e a Estarreja para que o rol dos premiados não ficasse vazio. Balanço do concurso? Graças a Rui Soares, nosso único vencedor, encaramos hoje com optimismo moderado a situação da língua-cervina no noroeste do país. As populações de Ovar e Estarreja são vigorosas e abundantes, e também há bons núcleos em Vale de Cambra e em Macieira de Cambra, o principal deles igualmente descoberto por Rui Soares. Como todas as plantas que vivem junto a linhas de água, a língua-cervina corre risco de erradicação sumária no âmbito de requalificações ou limpezas abrutalhadas de margens de rios e de ribeiras. Mas há sempre a esperança de que algum rio escape à fúria higienizante, ou de que alguma planta sobreviva quando as margens são rapadas à escovinha.

Da nossa lista inicial, Gaia foi o único concelho que não ficou em branco; mas, como não nos podemos premiar a nós próprios (apesar de o regulamento ser omisso a esse respeito), a descoberta não tem relevância para o concurso. A solitária língua-cervina gaiense foi a única e milagrosa sobrevivente da limpeza sem critério das margens da ribeira do Espírito Santo, em Miramar. Aparenta saúde débil, mas se a deixarem sossegada por uns anos talvez revigore e se multiplique.

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