05/07/2011

Rosetta




Jurinea humilis (Desf.) DC.

A primeira citação conhecida sobre a presença desta espécie em Portugal é de Rosette Batarda Fernandes que, em 1961, publicou uma nota, no Anuário da Sociedade Broteriana, registando a sua descoberta deste novo género para a flora portuguesa em interstícios de rochas xistosas na serra da Estrela, durante uma expedição, no Verão de 1959, liderada por Abílio Fernandes. A indicação vaga, como era então frequente, do local, além da dificuldade de outrora em viajar pela serra, levou entretanto ao receio de que estivesse extinta em Portugal. Cerca de quarenta anos depois, Paulo Silveira encontrou-a nessa e em cinco outras localidades da Cordilheira Central, em habitats xistosos acima dos 1300 metros (A flora da Serra do Açor, Guineana, vol. 13, 2007).

P. Silveira deduz da distribuição desta planta por cá — rara, apesar de as suas sementes não terem dificuldade em se disseminar com o vento e o gado só lhe trincar as folhas no Verão, deixando intactos os aquénios — que ela requer ambientes de montanha cada vez mais altos à medida que a latitude aumenta. O que poderá justificar que, por exemplo, não ocorra na serra (xistosa) do Marão. Estranha-se que uma planta aprecie Invernos tão frios e húmidos, seguidos de meses tórridos e secos, vegete em cascalheiras expostas à humidade oceânica de noroeste, e nem chegue a florir se este conforto lhe faltar. Apesar disso, esta erva vivaz de rizoma avantajado, por vezes lenhosa na base, é abundante na região mediterrânica oeste.

Fomos à procura dela num dos locais, na serra do Açor, referenciados por P. Silveira. Na cumeeira próxima estão agora instalados aerogeradores, com os inevitáveis estradões e, junto ao marco geodésico que nos servia de referência, havia jipes cujos passageiros comunicavam, em linguagem cifrada e sonoro registo, com o além. Na primeira visita, ainda Inverno, aquele topo era uma massa de nuvens onde quase nos perdemos. Na Primavera, já se podiam ver as rosetas rentes ao solo (humilis) de folhas aveludadas da Jurinea, com 2 a 3.5 cm de comprimento, face inferior algodoada, longo pecíolo e margens fendidas e levemente enroladas. Tudo a postos, portanto, para uma terceira visita no início do Verão: há um mês, mesmo na base do marco, dezenas de exemplares desta planta composta exibiam finalmente capítulos solitários de flores coradas como cardos de cerca de 2.5 cm de diâmetro. Para premiar a nossa militância, havia até meia dúzia de pés com flores brancas e, a acompanhá-las, também em flor, a Arabis beirana P. Silveira, J. Paiva & N. Marcos, um endemismo lusitano de que apenas se conhecem escassas populações.

O suíço André Jurine (1780-1804) foi médico e naturalista, e morreu jovem.

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