09/06/2011

Azul intermitente


Veronica serpyllifolia L.

No ano passado descobri esta verónica camuflada entre a relva do Parque das Virtudes, no Porto. Quando quis lá voltar na Primavera para a fotografar em melhores condições encontrei o portão fechado. O vigilante, com indisfarçável regozijo por fazer valer a sua pequena autoridade, não me deixou entrar. Explicou que o parque estava fechado porque tinha caído uma palmeira: de facto, a falta da Washingtonia filifera era tão notória como um sorriso com um dente a menos. A palmeira caída já havia sido retirada, e era estranho que a sua ausência fosse perigosa a ponto de obrigar ao encerramento do espaço, mas com vigilantes que cumprem ordens não adianta discutir. Além do mais, confiou-me ele cheio de misteriosa importância, o Parque estaria à espera de «projecto». Encolhi os ombros, pois já é hábito o Parque das Virtudes encerrar com razão ou sem ela durante meses ou anos. Quase ninguém lá vai, por isso o impedimento não é muito notado. Talvez entretanto já tenha reaberto, e deste «projecto», como de todos os outros «projectos» anteriores, só tenha sobrado uma vaga intenção sem data marcada.

Julgava pois que a verónica, morando do lado de lá dos portões trancados, me tinha fugido de vez. Mas não a haveria também noutros relvados mais acessíveis? Uma breve inspecção aos jardins das proximidades, desde o Palácio de Cristal à Praça da Galiza e aos palacetes do Campo Alegre, deu-me como resposta um enfático sim. A verónica-de-folhas-de-tomilho está firmemente estabelecida nos relvados dos jardins portuenses. Tem é uma vida intermitente, como todas plantas que colonizam relvados. De três em três semanas, lá vem a brigada dos cortadores de relva (seria descabido chamar-lhes jardineiros) apará-las à escovinha; nesse curto intervalo, as plantas têm que levantar o pescoço, florir e frutificar. Quem conseguir apanhá-las pouco antes de mais uma carecada, pode detectar as verónicas pelo contraste do verde da relva com as manchas azuis formadas pelas minúsculas flores (que têm cerca de 7 mm de diâmetro).

A Veronica serpyllifolia é uma planta vivaz, nativa de Portugal e de grande parte do hemisfério norte (Europa, Ásia e América). Além de frequentar relvados, também se encontra em certos ambientes naturais de montanha, como sejam bosques e margens de regatos.

1 comentário :

bettips disse...

Um susto
o sussurro
desses vigilantes de projectos a vir...