26/04/2011

Onda rouge



Anchusa undulata L.

A desmobilização dos comboios, derrotados pela aposta nas vias rápidas, tem permitido à flora, outrora arredada pela manutenção regular das linhas, um retorno vitorioso. Algumas plantas vão-se extinguindo como escolhos que a civilização condena. Outras, sensatas e pragmáticas, remedeiam-se na estreita faixa de cascalho que suporta a via férrea e, distanciando-se quanto baste das vinhas fertilizadas e dos herbicidas, sobrevivem a ambos com alguma tranquilidade. Desse modo reconquistam um mundo que nem sempre está disponível para ser, por nós, mudado.

No troço da linha do Douro que visitámos há tempos, encontrámos uma população desta boraginácea que, embora não recuse um torrão ruderal, prefere solo cultivado ou um prado húmido. A língua-de-vaca-ondeada é bienal ou vivaz, nativa do centro e oeste da Península Ibérica e do noroeste de África, e ocorre em quase todo o nosso território. A Flora Ibérica propõe (para já, só em rascunho) que se registem na Península Ibérica dois endemismos, a A. undulata subsp. undulata (de solos secos, incultos e terras cultivadas) e a A. undulata subsp. granatensis (de terrenos incultos, pousios e areias próximas do litoral).

Como vêem, é peludinha, mede uns 50 cm de altura e as folhas são simples, alternas, lanceoladas, com margens onduladas, amiúde até crenadas. A corola tubular, de centro claro, exibe matizes de azul, violeta e púrpura (mas pode, ainda que raramente, ser toda branca) e, como é frequente nesta família, protege a estrutura reprodutiva com escamas ciliadas na garganta. A polinização está a cargo de abelhas.

O género Anchusa abriga cerca de 30 espécies, a maioria da região mediterrânica, algumas delas usadas para fabricar o cosmético de tom avermelhado com que se avivam as cores do rosto.

1 comentário :

Teófilo M. disse...

Ah! Estes azuis derretem-me a alma.