21/04/2011

E assim passam os meses



Calendula arvensis L.

Lineu poderia esclarecer muita coisa se ainda hoje fosse vivo, mas parece que os imortais não são mais à prova de morte do que os cidadãos anónimos. Fosse eu adepto do espiritismo, seria esta a primeira pergunta que por interposto médium faria ao pai da taxonomia botânica: os nomes que deu às plantas têm alguma seriedade ou foram escolhidos para confundir os vindouros? Não sei se aos mortos convocados pelas malas-artes ocultistas é permitido fugir às perguntas como fazem os políticos, mas acredito que Lineu assumisse um ar de falsa seriedade e não abrisse o jogo. Seria natural que não quisesse abdicar de gozar connosco por toda a eternidade.

Calendula fornece um bom exemplo das especulações rebuscadas e inconclusivas que Lineu nos deixou como herança. A palavra tem a mesma raiz que calendário: ambas provêm de calendes, termo da língua etrusca pelo qual os Romanos designavam o primeiro dia de cada mês. Daí alguns concluírem que a planta foi assim baptizada por ter um período de floração longo, que vai de Fevereiro a Outubro: é que quase não há primeiro dia do mês em que ela não esteja em flor. Enfim, uma explicação nada plausível que só surgiu porque há quem goste de ver tudo explicado. É mais razoável admitir que Lineu simplesmente usou uma palavra que lhe pareceu bonita (o duplo "l" é de uma eufonia irresistível) sem lhe atribuir especial significado.

A erva-vaqueira (nome vernáculo para a Calendula arvensis) é uma planta de ampla distribuição mundial (Europa, norte de África, Ásia e Macaronésia) que, embora evite altitudes superiores a 700 m, é vulgar em terrenos cultivados e incultos por todo o território nacional. Planta anual, tem hastes mais ou menos ramificadas e erectas até 25 cm, folhas alternadas e ligeiramente pubescentes, e capítulos florais com 1 a 3 cm de diâmetro. Espécie polimorfa, apresenta por vezes inflorescências pequenas, dotadas de um disco central escurecido. A sua congénere C. officinalis, de inflorescências grandes e alaranjadas, mantém alguma reputação medicinal e, por ter sido muito cultivada em jardins e hortas, está hoje naturalizada no nosso país.

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