23/03/2010

Dias de harpa


Isoplexis canariensis Lindl. ex G. Don.

Madame Defarge, em A tale of two cities, é aldeã, mulher do taberneiro e temerosa defensora da revolução francesa. É a ela que Charles Dickens confia a parte menos digna da tragédia: cabe-lhe guardar nomes e suspeitas numa renda que tricota sem descanso, testemunho que servirá a razão da guilhotina. Fosse ela tecelã da natureza e, depois da linha branca para vincar a manhã, entremearia no tapete delicadas ervas, orquídeas, narcisos, campânulas e linárias, enlaçadas em tufos de algodão felpudo com cores quentes de Abril. E, ainda que somente traços, nenhuma espécie sumiria deste chão de fios.

O género Isoplexis conta com quatro espécies endémicas na Madeira (I. sceptrum (L. fil.) Loud) e nas ilhas Canárias (I. canariensis, I. chalcantha e I. isabelliana), ou talvez menos porque são raras e estão em risco de desaparecer do seu habitat natural. Apreciam bosques húmidos de pinheiros, escarpas rochosas ou ravinas de laurissilva, onde o solo é fugidio quando chove em excesso.

A Isoplexis sceptrum é um arbusto perene com caules ramificados que chega aos quatro metros de altura. As folhas são simples, obovadas, de 10 a 40 cm de comprimento e face inferior pubescente. As flores tubulares, que lembram as do género Digitalis (onde Lineu colocou as Isoplexis e aonde elas regressaram como secção independente em 1999), têm dois lábios, o inferior dividido em três lóbulos (redondos, mais curtos que os da foto). Reúnem-se em coruchéus densos cuja duração é longa (Julho-Agosto), adaptação a alguns pássaros polinizadores atraídos por receita timbrada de néctar.

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