27/08/2007

Portuguese watercress


Agrião (Rorippa nasturtium aquaticum)

Ainda que muito levemente, esta plantinha já fez latejar em mim o peito patriótico. No final da década de 1980 e princípio da seguinte, era eu estudante em Inglaterra (nas Midlands, não em Londres), a necessidade obrigou-me a cozinhar as minhas próprias refeições. Abastecia-me num Sainsbury's, rede de supermercados que cobre o Reino Unido de norte a sul, presente nas High Streets e centros comerciais de todas as pequenas ou grandes localidades. As visitas ao Sainsbury's eram não só necessárias, mas educativas: com tudo cuidadosamente etiquetado, fui aprendendo os nomes dos produtos no vernáculo local sem passar pela vergonha de os apontar com o dedo. Para lá dos nomes, havia outras indicações úteis. Por exemplo, na altura da paranóia alimentar causada por um surto de salmonela, o supermercado sossegava os seus clientes afiançando-lhes que só vendia salmonella-free eggs; e, a somar a essa reconfortante qualidade, os ovos eram British, coisa que as donas de casa muito prezavam. Mas, ou porque a ilha não produzia tudo, ou porque a globalização começava então a impor-se, também se vendiam muitos produtos importados: laranjas espanholas ou israelitas, manteiga neo-zelandesa, mel australiano, bananas sul-americanas... e agrião português. Tirando os vinhos, o agrião foi o único produto nosso que alguma vez encontrei num supermercado inglês. Era o representante solitário da agricultura nacional. Contra a fruta, a hortaliça e os lacticínios exportados por outros países, nós respondíamos com o agrião. Fosse pela qualidade ou pelo preço, esse era um monopólio nosso: nunca vi, nas bancas de verduras do Sainsbury's, outro agrião que não fosse o português. Mas a terrível verdade é que nunca o comprei, pois não saberia o que fazer com ele. O sabor acre do agrião não me entusiasma em saladas ou sanduíches, e usá-lo para fazer sopa (a sopa de agrião pode ser deliciosa) transcendia a minha habilidade. Porém, a fidelidade dos consumidores britânicos ao agrião luso dispensava e dispensa a minha modesta ajuda; por isso acredito que ele continue ainda hoje, e não obstante a sua natural leveza, a ter um peso decisivo na balança comercial luso-britânica.

2 comentários :

eduardo b. disse...

Fica excelente nas saladas, a fazer companhia à alface.

Ezequiel Coelho disse...

Vivó agrião!!!!
(obrigado por tão elucidativo "post"!)